Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-lhe, e ganhar-lhe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?
Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para os olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar.
José de Almada Negreiros
7 comentários:
Bonita escolha.
Concordo a butterfly...
Beijinhos e bom fim de semana ;)
"E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?"
Boa noite.
Hoje quando ia de carro ouvi na rádio qualquer coisa como "Não caiu.Não escorregou.Não voou" atribuida a J.Steinbeck, (não sei se literalmente era assim, mas o sentido era este).Achei bonito e relaciono-o com este poema e com a loucura de que aqui se fala, tão necessária para que se vá mais longe na perseguição dos sonhos.
Bom fim-de-semana.
Belo poema!
Entre os "sãos de espírito" e os loucos, prefiro os segundos; dos primeiros, desconfio sempre :)
lindo ;)...
Só os loucos conseguem perseguir os seus sonhos, apenas eles estão dispostos a derrotar obstáculos pela sua concretização, apenas eles têm coragem de sentir a liberdade do sonho...
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