01 outubro, 2006

Crepúsculo
É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva;
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força da vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.
David Mourão-Ferreira

6 comentários:

linhas tortas disse...

Também transpira calma, e melodia.
Uma boa semana.

Anonyma disse...

Mas é também a hora em que a noite regressa.
E eu pela minha parte, gosto muito do seu manto...
;)

Bandida disse...

Belissima foto e belissimo poema! Bravo!!!!!

Entre os teus lábios disse...

linhas tortas: Obrigada e igualmente :)

anonyma: A noite é 'companheira dos solitários' (como diz um poeta). Neste poema o crepúsculo é indício de solidão...

bandida: Este foi um dos poetas que descobri e surpreendeu-me. Obrigada :)

linhas tortas disse...

O que encontro de melhor na noite, o silêncio.

Entre os teus lábios disse...

linhas tortas: o silêncio pode ser o melhor numa noite... (ou não) dependendo do nosso estado de alma...
:)