02 dezembro, 2006


Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...


(Alberto Caeiro)

(imagem de Paulo Pires)

4 comentários:

Anónimo disse...

'tenho a certeza' de que conheço uma irmã gémea da autora deste blog - será possível? os poemas, a visitas nos comments, o estilo... é uma sensação de 'dejá vu' muito interessante (talvez até o link...)
ass: desconhecida

linhas tortas disse...

assim seja...

Bandida disse...

que haja na boca a palavra...



e no sentido. o caminho.




beijo.
__________________________-

Anónimo disse...

Lovely....