28 março, 2007

"Eu"


Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei-de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.



(Álvaro de Campos)

2 comentários:

Anónimo disse...

Lembrei-me da Florbela... mas hoje simplifico.

"Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.

- Como quereis o equilíbrio?"

David Mourão-Ferreira

Anónimo disse...

MUITO BEM!