30 setembro, 2006

"Nem todos os caminhos são para todos os caminhantes"
Goethe

27 setembro, 2006

Lua adversa
Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e vêm
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Cecília Meireles

26 setembro, 2006


Electroshock
Juan Carlos Claver
98 min. Espanha 2006
Versão original

Pelas 22h no São Jorge, pronta para ver mais um filme do 10º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa (já tinha assistido a alguns no Quarteto) e deparo-me com algumas pessoas conhecidas... Não são essas que estão a pensar, são minhas conhecidas a nível profissional ou é a amiga da amiga, ou o amigo do amigo. Pois, ainda hoje alguns se escondem...
Bem (não dispersando), o filme! Baseado em factos verídicos, (mais uma) história de amor entre duas mulheres, que resistiu à família, ao internamento, a choques eléctricos e à Morte! É um drama, ultrapassa muitas barreiras e vence. Pilar e Elvira eram tão diferentes aos olhos dos outros...



Saí a desejar amar assim...



20 setembro, 2006

Amar!


"Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!

Recordar?Esquecer?Indiferente!...
Prender ou desprender?É mal?É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar..."




Florbela Espanca

16 setembro, 2006

A música...

Depois de ver dois concertos da Marisa Monte, decididamente a voz daquela menina tira-me do sério, fico com a 'alma cheia', faz-me querer mais, ouvir mais.
Como sou novata nestas andanças, ainda não sei inserir a 'caixinha de música'!
No entanto aqui vai a letra de uma música, caso queiram podem consultar o site http://www2.uol.com.br/marisamonte/site/abertura.htm.


Até parece

Até parece
Que não lembra que não sabe
O que passou
Não faz assim
Não faz de conta que não pensa
Em outra chance pra nós dois
Olha pra mim
Não me torture, não simule
Não me cure de você
Deixa o amanhã dizer


(Marisa Monte/Dadi/Arnaldo Antunes/Carlinhos Brown)

12 setembro, 2006

Palavras...


Já ouvi dizer: 'Palavras para quê? O que conta são os gestos, as acções...'

Palavras para escrever, ler, ouvir, falar, envolver, cativar.
As que desejamos, apaixonamo-nos, amamos, odiamos, cheias de sentimentos. Envolvem...
Palavras de ontem, hoje e de amanhã, que perpetuam no universo, certas e certezas, incertas e cruéis.



'Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.'


Alexandre O'Neill


Por vezes, nos sítios mais estranhos, encontro algo para ler, que me distrai do que me rodeia e me deixa extasiada, que satisfaz…


“Inevitavelmente, voltamos sempre ao mesmo: o amor!...
Tudo já foi dito e redito, tudo teve o seu direito e o seu avesso, no entanto, quando o dizemos de dentro, é como se tudo num breve instante se esbatesse e reencontrássemos a voz primordial. É assim com a pessoa amada, é assim em todas as canções de amor.
Claro que gostamos de finais felizes, claro que fazemos sentir a nossa falta, claro que nos irritamos, claro que projectamos na voz da pessoa amada os nossos mais secretos desejos…
Claro que nos desiludimos para voltarmos ao mesmo: o amor!
Atravessamos um deserto cego e frio e só depois nos damos conta; deixamos livros marcados para que o outro dê conta de nós; rasgamos a pele e a roupa para que, num desespero de carência, se ofereça o essencial… e, no entanto, só perante o amor avaliamos a nossa total fragilidade. É o suspenso momento de todas as indefinições, de todos os medos, de todas as dúvidas… Mas, simultaneamente, o grande delta de toda a razão de ser, a grande casa inacabada.”

João Monge In CD O Assobio da cobra

09 setembro, 2006

A causa do título...

Entre os teus lábios

"Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha."


Eugénio de Andrade